domingo

Gente

Navego em emoções vazias, representações de felicidade. Crianças nos braços dos pais me olham pronfundamente, como se quisessem me compreender. Sorri pela inocência daqueles olhares e voltei a me entendiar com o caos do trânsito, com a angústia nas faces dos trabalhadores fatigados de mais um dia de jornada.

Não há nada mais desolador e solitário que andar de ônibus. As pessoas estáticas e imersas em seus mundos. Indivíduos desabitados e temerosos de compartilhar sorrisos, conversas e sentimentos.

O que nos resta? O desejo aprisionado de compartilhar vida.

terça-feira

Interações autísticas

Desde janeiro deste ano, venho trabalhado com crianças especiais. Especiais no sentido de serem mágicas e únicas e não alienígenas que necessitam de cuidado especial, apesar de necessitarem.

Me instiga interagir com crianças ou jovens com deficiência intelectual, são muitos os caminhos da aprendizagem e com eles é necessário investir nos caminhos mais criativos e também estreitar laços afetivos. É um aprendizagem prazeroso, pois não pode ser tradicional e conteudista.

Atualmente, realizo apoio pedagógico de um menino com autismo, mundo novo a desbravar. Me sinto realizada quando trocamos olhares, sorrisos ou qualquer tipo de comunicação. Interagir com alguém que não compreende a necessidade de se comunicar é uma tarefa árdua, que requer muito estudo, muito empenho e uma dose extra de criatividade para estimular a comunicação.

Luís é um menino calmo, mas que não sente interesse em se comunicar, não consegue sentir isso. Escondo os objetos de sua preferência e tento fazer com que ele diga: "Dá!", mas é difícil e inicialmente, apenas um balbuciar já representa um avanço.

Penso que os pais criam expectativas nos seus filhos com autismo, neste caso, para que eles falem e talvez, essa criança se comunique melhor através das imagens ou até mesmo, através do computador, digitando, como a canadense Carly se comunica muito bem.

Continuo na luta.


Preás

Tenho tido sonhos intensos e muita vontade de ficar horas e horas a mais na cama, rememorando esses dramas do subconsciente.
Incrível quando pensamos em alguém obsessivamente, tendemos a sonhar com a criatura. E é nesse sonho que mantenho meu santuário inviolável de desejos.

Ontem fui à terapia, primeira sessão. A psicóloga é assustadoramente linda e tem os olhos daqueles bonecos de mangá, grandes e penetrantes. É intrigante quando os psicólogos se fixam o olhar na gente enquanto falamos, sinto aflição quando páro de falar e lá está ela, me fitando com aqueles olhões estáticos. Intimida bastante.

Porém, estou disposta a trazer minhas impressões angustiadas para seu consultório.

Preás

Preás dançam na minha cuca
Cuca chicoteada pela histeria do baile
Bichos do juízo de cobra peçonhenta
Pressentem quando entro e saio
De mim mesma

sexta-feira

Ex-aluno hiperativo

Ontem, visitei um ex-aluno meu, o mais querido. Sua presença estava marcando meus últimos dias desde minha saída da escola. Me pegava pensando na sua alegria e espontaneidade, nas suas verdades jogadas pra quem quisesse ver e ouvir. Um mundo de verdade e mais feliz é onde Alfredo habita.

Penso que nós, adultos, somos muito cruéis conosco e injustos com a vida. Vivemos cheios de preás na consciência, de culpas, covardias, máscaras e diplomacias para lidar com as situações. Vivemos entiquetados e aprisionando o que é natural na gente. As crianças não são assim, elas são magnânimas com a vida, sorriem de coisas simples, não tem preás na consciência, são curiosas e entusiasmadas com o novo, vivem o agora e nada mais. Perdemos toda essa magia, algumas pessoas recuperam e nutrem a magia pela vida com maestria e eu admiro.

Alfredo é hiperativo, genial para interagir com quem o cerca, inteligentíssimo e obcecado por organização e limpeza. Tem enorme facilidade de demonstrar seu afeto pelo outro, trava que adquirimos também com a idade. Sem medo, ele fala sobre amor, demonstra afetividade e alegria por sentir essas sensações, os únicos momentos que demonstrava descontrole emocional eram quando alguém se incomodava com alguma atitude sua. Seu receio era magoar as pessoas e isso o frustrava.

Ao chegar em sua casa, fui recebida com certo receio, um ressentimento, talvez por eu ter deixado a escola. Depois ele me abraçou e aí começou a festa, bagunça, movimentos rápidos junto com um turbilhão de perguntas. Respondia todas e a cada resposta, Alfredo abria um sorrisão tão lindo que me tranqulizava e me fazia feliz. Seu avô me ofereceu café e ficamos ali matando a saudade, eu perguntando a ele sobre as figuras da escola e ele me perguntando sobre minha vida com seu jeito frenético. Comunicação intensa e dinâmica. Revigorou minha alma.

Me deu gás.

Taí

Não estou aqui nesse blog, por outro motivo, senão utilizar desse espaço para um muro de lamentações, amores, dores e visões acerca da vastidão que me cerca ou da limitação que condeno.

Espero que os astros, as presenças ocultas e a minha memória me permitam prosseguir nesse fazer, pois há alguns meses atrás, eu fui interrompida de continuar escrevendo, relatando confissões para um espaço virtual como esse porque eu perdi minha senha. E esta estava vinculada a um endereço de email que eu só utilizava para acessar o blog, ou seja, sem email alternativo e sem a senha do email, o blog foi jogado na esfera virtual feito um cão sem dono. Mas o blog tem dona, tem meu nome lá e um monte de confissões, desejos, erotismos... Taí, to nem aí mais pra esse blog confessional. As coisas mudam, a escrita é mutável, transitória, peremptória, casual...

Agora, eu estou preocupada na entrega que é escrever, nas reflexões e me aprofundar nos estudos e pesquisas sobre Gi e sua visão, aqui mesmo.

Sobre a carambola, é uma fruta bonita, deliciosa, azedinha e pode ser doce também. É estrela de cor forte.
Nessa onda de mulheres frutas que abomino, não quero que relacionem a minha pessoa à uma fruta, isso é coisificação, não tolero! Mas como eu também não tolero meu nome, acho digno uma fruta tropical pra nomear meus pensamentos.

Tropicalista e aTIETAda,
Gi