segunda-feira

TransformaDOR em ódio

Banalizam a violência gratuita dizendo que você não é nenhuma criança, te fragilizam alegando que nossas histórias são "tronchas", que você tava no lugar errado e na hora errada, como se o machismo e a covardia escolhessem hora e local pra se expressar. 

Tá tudo tão escrachado, nas rodas onde predominam vozes masculinas a misoginia e o ódio reinam, nossas vivências sexuais nos colocando nas cadeiras de réus.
O desrespeito cruel nos espaços íntimos e públicos virando as "novidades" do momento, as últimas pra rir e fazer chacota da desgraçada que se fudeu. 

Não é assim que o celebrado Nelson Rodrigues já dizia, "mulher gosta de apanhar"?? E assim toma corpo e espaço as ideias que querem que permaneçamos vulneráveis, passivas às perversidades do patriarcado. 

A dor de saber que nos querem frágeis e da cínica cumplicidade das pessoas com os agressores. Sabemos que formariam platéia pra assistir a mais um 'barraco' do que agiriam em defesa de uma vítima de violência. Está doendo muito e mais ainda por saber que milhões de pessoas convivem diariamente com a macheza truculenta de muitos.

Me dói ouvir que isso vai passar, porque não quero esquecer tudo isso, não quero essa dor estanque, quero que ela movimente a ira que tenho contra o machismo, que se transforme em (re) ações, quero ouvir "estamos com você" e não "mude sua conduta". Não quero que justifiquem a brutalidade masculina pelo uso de drogas! Queremos reconhecimento do nosso ódio contra os pais que violam, ofendem e destroem a alma de suas filhas, dos namorados e ex companheiros que minam nossa liberdade, destroem a união entre as mulheres.

Querem nos dividir e nos isolar. Queremos sentir que não estamos sós, nos fortalecendo, sentir que meu ódio não é único e que posso compartilhá-lo com pessoas que acreditam num mundo livre para todas nós, para todxs nós. 

Que a nossa união, apoio, solidariedade, irmandade e nossas reações enfurecidas contra qualquer tipo de opressão machista sejam nossas armas! Celebremos a sororidade!

Não queremos consolaDOR, queremos transformaDOR , que essas nossas dores virem ódio insubmisso à todas as ações de silenciamento e violações machistas!

terça-feira

Narrando o frenesi

Dorso longo, pernas curtas. Suor escorrendo pelo corpo, energizando correntes sanguíneas. Quente pra rachar a quenga do coco. Cataliso todas as formas que o tesão assumir. Solto e envernizado, tá livre.

Existem mil papéis que podemos carnavalizar. 

Fisgar o momento, congelá-lo na memória afetiva. Esquentar a consciência para alterá-la. Almejar a imensidão do infinito de possibilidades de prazer. Sem preás culpados. Estragando todo roteiro masculino de ejaculação. Dominando e sendo dominadx, fragilizando o instante, fortalecendo com gana. Desejo derretendo na pele. Sofisticando desejos nas palavras. Sussurrando fantasias ao pé do ouvido. Ensurdecendo a razão e o pudor. Tempestades das ideias traduzidas na ousadia dos toques. Ninguém precisa de proteção nessa hora.

Salto no abismo.

Caio no êxtase do desequilíbrio. Estremeço com turbilhões de sentimentos. Atrito das bocas. Liquidez do tempo. Encontro e perdição. Molhados corpos. Sentidos deslizantes. Troca de olhares. Fixação no olhar que se oferece. Ritmo e frenesi nos movimentos. Úmido calor entre as pernas. Mãos que se atropelam. Bravas mãos a percorrer a carne. Carinhos suingados. Respiração intensamente louca. Lambidas dão lugar a certeiras mordidas. Explode imaginação na quebra dos tabus.

Selvagens dedos sobre os pelos. Procuram alucinar e provocar devaneios. Explora esse corpo ardente que implora que o devore. Se atreve a subverter as velhas sequências. Sempre levaram a sensações familiares. Sai e entra pelas diversas portas da percepção.


Brinca nas fronteiras do desejo.