sexta-feira

Ame seu xibiu

Há muito tempo ando refletindo e pensando sobre a vagina e suas representações nesse mundo, onde se idolatram rolas. O falo, pau, cacete, pomba, madeira é sempre visto com virtuosismo. É lindo, endeusado e paparicá-lo, na visão de muitos, é quase um pré requisito para o rala e rola. A vagina sempre é deixada para o mistério do planeta, algo que está sempre ali sem a menor pretensão de gozar. É estranhada, escondida e velada pela sociedade. Desde a infância, vi poucas vaginas, mas muitos pênis desenhados, ilustrados e fotografados à torto e à direito. Vi rola pixada, grafitada e grafada em carteiras, mas nunca vi as lindas bucetas, em seus variados formatos e cores desenhadas por aí.
Me lembro de um episódio que ficou marcado na minha memória afetiva quando
era criança. Como toda boa família machista, a minha com a chegada do primeiro filho homem, se rendeu aos encantos e deleites de ter um machinho no lar. Minha mãe e minha avó, corujas com seletividade de gênero, sempre estimulavam meu mais novo irmão, ainda bebê, à brincar com o seu pintinho. Vó morria de alegria ao ver que o pintinho se mexia e cantarolava: "olha o passarinhoooo!" Era uma verdadeira festa e com muita naturalidade e ludicidade. A família inteira gargalhava com as brincadeiras em torno do piu-piu do meu irmão. Eu achava estranho aquela idolatria, mas sempre pensando que o meu xibiu "não era coisa de deus", sabe?
Imaginava que era algo que não era bonito de se ver e tão pouco de ser admirada, servia apenas como "tomada" para que os fios masculinos adentrassem. Então, assim fui crescendo com a visão de que buceta era pra ser escondida. Até que na minha adolescência, tive a ideia de montar um clube da luluzinha, onde comentaríamos sobre nossos cotidianos e mostraríamos o xibiu uma para outra.
Esta era a regra que eu inventei e hoje penso que a criei justamente para conhecer outras Ginas. Ora, o pau estava por toda parte e penetrava por completo meu imaginário sexual! Eu tinha que fazer algo para conhecer as outras xavaskas. A ideia do clube aconteceu uma única vez, pois ao mostrarmos nossas pepecas na roda, vieram juntos os medos, preconceitos e condenações estéticas que instauraram um clima tão hostil entre as meninas que eu me arrependi amargamente de ter tido aquela ideia. "Olha, parece um largarto", "Que fedor!". Eram condenações cruéis sobre pêlos, lábios, cor, cheiros, tamanhos e formatos que deixavam a polêmica do tamanho do pênis parecer fichinha.
O tempo foi passando e fui percebendo que ter amizade com a xana era fundamental para a liberdade da mulher. Se conhecer aprendendo a gozar sozinha, porque temos todas as "ferramentas" para tal. Nossa buceta é soberana, plena e completa.
A mensagem era só essa mesmo: toque, arroche e idolatre seu xibiu, pois geral sempre vai condenar esse amor.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Entendo a bandeira que levantas, ama o teu xibiu e torne esse assunto menos denso e mais natural, porque francamente ainda é muito difícil tratar desse assunto sem tecer nenhum comentário machista. Difícil, mas não impossível esta missão!

    ResponderExcluir
  3. Puxa... fiquei tanto tempo sem te ler... Imperdoável. Xibiu rules!

    ResponderExcluir