Em que tempo nós estamos vivendo mesmo? Na época em que as
mulheres eram ensinadas, prendadas e obrigadas a ter “bons modos” e
aprenderem a se comportar corretamente em ambientes públicos? Que eram
condenadas e jogadas à fogueira por desvios no comportamento? No século
XIX, Rousseau defendia que a educação das meninas fosse diferente,
baseada nos valores serviçais, com a finalidade de agradar e atender aos
seus senhores. Essas ideias foram fortemente combatidas por inúmeras
vozes, lutas, movimentos feministas, libertários e consideradas
ultrapassadas.
Ultrapassadas, mas que sempre ressurgem incendiárias e indignadas com
os novos tempos. Na recente confusão gerada pelas fotos de Vanessa
Guerra e Adriano Iglesias no facebook, o post de Edgar Fonseca Alves,
que sai em defesa do macho alfa, demonstra que algumas mentalidades,
vistas como antiquadas, ainda vigoram, se expressam, são aplaudidas e
compartilhadas à fole pelos ditos defensores dos bons costumes e da
cartilha patriarcal do ser mulher. Além da ridícula defesa do
comportamento apropriado para uma mulher sob a pena de levar uma porrada
merecida, é de se espantar a misoginia gritante ao afirmar que a Lei da
Maria da Penha tinha que servir apenas às seletas donzelas, “de
princípios e valores”, ou seja, para mulheres livres, que como bem Edgar
descreveu, vivem “enchendo a cara, fazendo o que querem… Quando querem… E como querem”, só mesmo com duzentas chibatadas no lombo para aprenderem verdadeiros modos de viver e ser mulher.
A Lei Maria da Penha, criada por uma necessidade de proteção maior
às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar e que vale
salientar, não tem atendido satisfatoriamente às demandas de violência
contra mulher e feminicídios, foi justamente aprovada para que nós não
tenhamos mais medo de sermos quem somos, de sermos quem quisermos ser,
de ir e vir sem sermos importunadas por abusos, agressões, violências
simbólicas e físicas travestidas de “brincadeiras” descomprometidas.
Não bastou a revolução sexual, a emancipação feminina nas esferas
sociais, o movimento feminista com suas lutas, para que o ódio e a
frustração que algumas pessoas sentem ao se deparar com mulheres que
fazem o que querem, que não aceitam passivas abusos e imposições que o
machismo tenta enfiar goela abaixo, acabasse ou que ao menos, aparecesse
envergonhado de defender algo tão torpe quanto uma “educação” para
mulheres se comportarem nas ruas. Para os que endossam os mais de mil
compartilhamentos das palavras de Edgar, eu digo-lhes que não adianta
espernear contra a independência e a liberdade da mulher, não
suportaremos mais caladas, incomodaremos com nossas livres expressões
cada vez mais.
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