quinta-feira

Identidade

      O que terá levado Darcy Ribeiro — e ele mesmo se faz essa pergunta — a embrenhar-se, tão jovem, aos 27 anos, pela solidão da lonjura tropical brasileira, misturando sua vida à de dezenas de aldeias indígenas? No Brasil, são raríssimos os intelectuais com este percurso, com a coragem de ir ver de perto e de dentro, durante longos meses, a condição social, material e cultural dos destituídos, e mais, a de outros povos, compartilhando suas alegrias e sofrimentos. Poderia ter feito outras escolhas profissionais e, como sabemos, acabou se tornando um grande político, ministro, senador da República, fundador e reitor de uma universidade, mestre, como escreveu Antonio Candido, na arte de lidar com as instituições, construí-las sem perder a irreverência e a indignação diante da injustiça. Sua dedicação aos povos indígenas, massacrados pelo Brasil colonizador, marginalizados e desprezados pelo racismo e pelo pensamento dominante brasileiro, fez dele um pensador original na esquerda brasileira e na formulação de políticas públicas, preocupado não só com o socialismo, as liberdades democráticas e a igualdade, mas também com a identidade étnica e a diferença cultural, direitos humanos fundamentais dos primeiros brasileiros e de muitos outros povos.
Betty Mindlin.

Yonomamis. Foto de Cláudia Andujar

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